Acuado pela CPI da Covid e pela crescente queda na popularidade, o presidente Jair Bolsonaro atacou mais uma vez o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, que é contrário ao voto impresso. “Um imbecil”, disse Bolsonaro em referência ao magistrado. “Lamento falar isso de uma autoridade do Supremo Tribunal Federal. Um cara desse tinha que estar em casa”, afirmou em conversa com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada nesta sexta-feira (9).
Aos apoiadores, o presidente fez nova ameaça de que as eleições do ano que vem podem não ocorrer caso a urna eletrônica não seja alterada. Ele atribuiu a Barroso articulações políticas junto ao Legislativo para barrar a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição do Voto Impresso, de autoria da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF).
A votação da proposta na Comissão Especial da Câmara, que analisa o assunto, estava prevista para ontem, mas foi adiada para o próximo dia 15. “Não tenho medo de eleições, entrego a faixa para quem ganhar, no voto auditável e confiável. Dessa forma, corremos o risco de não ter eleições no ano que vem, porque o futuro de vocês que está em jogo”, disse. E continuou: “Nós não podemos esperar acontecer as coisas para depois querer tomar as providências. O que está em jogo, pessoal, é o nosso futuro e a nossa vida, não pode um homem querer decidir o futuro do Brasil na fraude. Já está certo quem vai ser o presidente do Brasil no ano que vem, como está aí, a gente vai deixar entregar isso?”.
Ao ofender Barroso, Bolsonaro adotou hoje o mesmo tom grosseiro de ontem, 8, em sua transmissão semanal pela internet, quando disse que não responderia ao pedido de explicações da CPI da Covid sobre supostas irregularidades no contrato de aquisição da vacina indiana Covaxin. “Caguei. Caguei para a CPI. Não vou responder nada”, disse.
Cada vez mais irritado em meio à série de denúncias de corrupção na compra do imunizante e ao crescimento dos atos de rua que pedem seu impeachment, Bolsonaro intensificou nas últimas semanas sua defesa à implementação do voto impresso e, novamente hoje, cogitou a possibilidade de não haver eleições em 2022, caso a proposta não seja aprovada pelo Congresso.
O aumento da escalada de críticas e acusações de Bolsonaro à urna eletrônica, sem apresentar provas, ocorre num momento de queda de popularidade e desgaste do governo diante das denúncias de corrupção na CPI da Covid. Além disso, manifestações de rua estão mais frequentes. No sábado passado, houve protestos em todas as capitais e novos atos estão sendo convocados. O MBL e o Vem Pra Rua, dois dos grupos que lideraram as manifestações pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff, marcaram sua manifestação para o dia 12 de setembro.
Na última terça-feira, também em conversa com eleitores, o presidente havia dito, mais uma vez, que o voto no Brasil é fraudável. “Se não tiver o voto impresso, não interessa mais o voto de ninguém”, afirmou.
Em transmissão ao vivo nas redes sociais, há uma semana, Bolsonaro disse que, se for derrotado nas eleições de 2022, só entregará a faixa presidencial se o seu adversário tiver vencido de “forma limpa”, termo usado novamente por ele ontem.
Nesta sexta-feira, Bolsonaro afirmou, novamente sem provas, que houve fraude na disputa à Presidência da República de 2014, apesar de o candidato derrotado no segundo turno daquela eleição, Aécio Neves (PSDB-MG), já ter descartado a hipótese.
"Nós vamos ter eleições limpas, pode ter certeza. E eu não participar de fraude não quer dizer que eu vou ficar em casa", disse o presidente, alegando que dava recado a todos os brasileiros para que “lutem pela sua liberdade”. “Não queiram que um homem sozinho resolva o seu problema, é igual um casal, os dois têm que resolver juntos”, disse a seus apoiadores.
Em outro revés para Bolsonaro no TSE, Barroso decidiu acatar um pedido da ala do Patriota contrária à filiação do presidente e afastar Adilson Barroso do comando do partido. O presidente tinha a intenção de se filiar ao Patriota para lançar sua candidatura ao segundo mandato.
AI-5
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes também foi alvo de insultos de Bolsonaro, que defendeu aquilo que entende como cumprimento do artigo 142 da Constituição, segundo o qual as Forças Armadas devem garantir os poderes constitucionais.
“Se está lá, é pra respeitar. Inclusive, o senhor Alexandre de Moraes tem que respeitar o artigo 142. O cara levanta AI-5. O que é AI-5? Não existe AI-5. E alguns acham que eu estou querendo dar o golpe. Fala pra esse otário que eu já estou no poder”, disse o presidente, ao citar Ato Institucional Número 5, o mais duro da ditadura militar. Procurado, o Supremo e o TSE não se manifestaram.
Em nota divulgada na quarta-feira, 7, quando Bolsonaro também havia apontado, sem provas, suspeitas de fraudes nas eleições, Barroso informou, via assessoria de imprensa, que estava no exterior e pediu para “não ser incomodado com mentiras e miudezas”.
Fonte: Lindomar Rodriguês